Cartaz

Autor: Rúben Quadros Ramos

Antes de apresentar o cartaz das Sanjoaninas 2024, será interessante enquadrar a ciência e a arte por detrás da criação de cartazes.

É fascinante como este objeto consegue ser tão frágil e tão poderoso, em simultâneo. A sua fragilidade advém do próprio papel, tão suscetível ao rasgo, à temperatura ou à humidade. Já o poder do cartaz reside na mensagem que transmite, que pode mudar o pensamento individual e, por acréscimo, de comunidades inteiras.

Quer seja para transmitir alegria, esperança, medo ou raiva, os cartazes são eficientes veículos de comunicação de carácter público.

O que hoje consideramos um cartaz, isto é, uma composição com imagem e texto, teve origem no século XIX, fruto da contínua evolução da técnica, que já passou pela xilogravura, litogravura, entre outros, até às atuais tecnologias digitais.

Contudo, se olharmos para o cartaz como um objeto que transmite informação de interesse coletivo, talvez possamos ir até ao Império Romano, que recorria ao cartaz para publicitar leis e avisos, indispensáveis ao funcionamento dessa sociedade no seu vasto território.

Hoje, criar um cartaz é tão pertinente quanto há 2000 anos. É uma ferramenta imprescindível para a vida em comunidade e, por isso, um testemunho visual da evolução social e cultural.

Face a este contexto, não deixa de ser significativo que o primeiro ato oficial de cada edição das Sanjoaninas resida na apresentação do seu cartaz.

Assim, apresento o cartaz das Sanjoaninas, que decorrerão em Angra do Heroísmo entre 21 e 30 de junho, e que em 2024 celebram os 50 anos do 25 de Abril, sob o tema “Angra: teu nome é Liberdade”.

A revolução de 25 de abril de 1974 derrubou o regime ditatorial do Estado Novo. Além de melhorar a segurança social, o sistema educativo e o serviço de saúde, a mais importante conquista da Revolução dos Cravos foi a descentralização do poder, que permitiu às autarquias locais adquirirem a liberdade e a autonomia necessárias para gerir o seu território, de acordo com as necessidades da população. Foi a partir desta nova forma de governo, focada nas demandas de cada comunidade, que Portugal conseguiu modernizar-se, através do investimento nas estradas, no saneamento básico, na corrente elétrica, entre outros. Foi efetivamente o poder local de todo o país que, na sequência do 25 de Abril, devolveu a dignidade e a qualidade de vida ao povo.

Será importante referir que a História de Angra é também uma epopeia de lutas pela Liberdade, de que são exemplos as contendas com os espanhóis nos séc. XVI e XVII, os confrontos liberais no séc. XIX e a conquista da Autonomia em 1976. Esta cidade sempre se pautou por um grande sentido de Liberdade, digno da sua centralidade na História da Terceira, dos Açores e de Portugal.

O cartaz que hoje se apresenta tem um estilo gráfico que lembra os pósteres turísticos de Portugal das décadas de 60 e 70, com cores pastel e veranis. Quanto ao desenho em si, trata-se de uma representação estilizada da Praça Velha adornada de cravos, o símbolo máximo do 25 de Abril. Em primeiro plano estão os Paços do Concelho a hastear a bandeira de Angra do Heroísmo, numa alusão à importância das autarquias locais após a revolução. No plano de fundo, está o casario característico da cidade (um elemento visual da marca Sanjoaninas). Estão também o monumento da Memória e a Igreja da Sé (ambos marcos reconhecidos de Angra). Esta figuração no coração da cidade, é igualmente um tributo à Praça Velha, enquanto ponto de encontro do povo nas suas inúmeras lutas pelas liberdades, direitos e garantias ao longo da nossa História.

Pessoalmente, tenho muito gosto em fazer este cartaz. É sempre um desafio interessante e uma oportunidade para explorar novos caminhos visuais de reinterpretação da cidade e das Sanjoaninas. Espero que este cartaz não seja apenas um postal para as festas, mas uma homenagem a esta cidade que personifica a Liberdade.

Rúben Quadros Ramos